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terça-feira, junho 09, 2009

MARIA BRITES NUNES - II


In Região Sul



Lagos: Maria Brites Nunes é a candidata CDU à Autarquia
Data: 09062009 às 15:00:00

Para concorrer à presidência da Câmara Municipal de Lagos a CDU aposta em Maria Brites Nunes, membro da coligação na Assembleia Municipal. Em entrevista online ao Região Sul, entre outros assuntos a candidata é convidada a falar nas suas propostas para concelho e a analisar o trabalho do actual executivo socialista.

Entrevistador(a)/ Jornalista:

João Vargues
joaovargues@regiao-sul.pt

Entrevistado:
Maria Brites Nunes
Funcionária do Ministério da Saúde
Maria Brites Nunes, 59 anos, é natural de Portimão e reside em Lagos desde 1984. É funcionária administrativa do Ministério da Saúde; dirigente do Sindicato da Função Pública do Sul e Açores; e membro da Assembleia Municipal de Lagos, eleita nas listas da CDU. Entre outros dados biográficos destaca-se ter sido candidata à Câmara Municipal de Benavente em 1979. e ter integrado as candidaturas da CDU à Assembleia da República pelo círculo eleitoral de Faro em 1999, 2002 e 2005.


Questão:
De uma forma geral, que analise faz do trabalho do actual executivo à frente dos destinos de Lagos?
Resposta:
Uma primeira questão que gostaria de abordar é o conceito de democracia e as alterações que a maioria absoluta que governa a Câmara de Lagos, o Partido Socialista, introduziu no funcionamento do órgão Câmara Municipal. Para uma melhor compreensão, desafio os interessados a consultar as actas das reuniões de Câmara ou a estar presentes em algumas delas. Aí se constata que todas as decisões importantes foram expurgadas do órgão executivo do município e delegadas no Presidente ou vereadores da maioria. Também se introduziu um conceito sui generis, a existência de dois executivos, o executivo em permanência, por oposição ao executivo em minoria, como se o órgão não fosse colegial e todos não tivessem sido eleitos pelos lacobrigenses, uns com mais, outros como menos votos. E tudo isto empobrece e fragiliza o exercício da democracia. Também as opções tomadas em termos estratégicos me merecem discordância. Assistiu-se a uma invasão dos locais mais emblemáticos do nosso concelho pelo betão, continua a insistir-se no alargamento dos perímetros urbanos da cidade e das povoações e a deixar os núcleos primitivos ou mais antigos ao abandono, avançou-se para um conjunto de obras de grande vulto em simultâneo e, concomitantemente, tomaram-se compromissos em termos financeiros que vão hipotecar as próximas gerações.


Questão:
A oposição à direita em Lagos tem criticado aquilo que chama de “excesso de empresas municipais”. Qual é a sua opinião sobre o assunto?
Resposta:
Desde a primeira hora que a CDU se manifestou contra a criação das empresas municipais e na Assembleia Municipal, de que sou membro, votámos sempre nesse sentido. Considerávamos na altura (2006) que a criação destas empresas viria a originar a duplicação de serviços e um conjunto de lugares de administradores, sem o crivo do concurso público, assumindo decisões que fogem ao controlo fiscalizador dos órgãos do município. Acresce que à data, a Câmara tinha em curso uma reestruturação orgânica dos serviços e nada apontava para a necessidade da criação das empresas municipais, apenas a declaração de princípios, de que frontalmente discordamos, de que “o modelo de gestão exclusivamente público entrou em crise”. Afinal veio a verificar-se, com o tempo, que o modelo em crise era outro… As empresas municipais têm-se tornado num sorvedouro de dinheiro público, especialmente a Futurlagos, que optou por formar parcerias na criação de novas empresas para a construção dos equipamentos públicos, enredando-se numa engenharia financeira que leva a que as principais obras em curso, o novo edifício municipal e os dois parques de estacionamento, resultem num endividamento para o município para os próximos 25 anos de cerca de 100 milhões de euros. Continuamos, assim, cada vez mais apreensivos com esta situação numa altura em que as receitas do município estão a baixar drasticamente.


Questão:
Na apresentação da sua candidatura, defendeu a necessidade de ressuscitar a componente de ruralidade de Lagos, que diz que foi “posta de parte”. Concretamente, quais sãos as suas propostas neste sentido?
Resposta:
Hoje em dia, no Algarve, consomem-se figos oriundos da Turquia, amêndoas da Califórnia e laranjas da África do Sul e Israel, só a título de exemplo. Muitos laranjais do nosso concelho estão invadidos pelo mato e enterram-se toneladas de maravilhosas laranjas que não têm escoamento. Até a Adega de Lagos fechou portas. Mesmo os espíritos mais distraídos devem ser assaltados por alguma espécie de perplexidade perante estes factos que se estendem de uma maneira geral a todos os produtos que utilizamos na nossa alimentação. Claro que não advogamos o retorno à agricultura que até meados do século passado se fazia no nosso Concelho tal como na época medieval: era utilizada a força humana, a tracção animal e pouco mais. Hoje em dia há recursos tecnológicos variados e acima de tudo investigadores e técnicos reputados, com é o caso dos da Universidade do Algarve. Há a possibilidade de efectuar estudos antecipados dos solos, conhecimento profundo de pragas e infestantes, planeamento e estudos de mercado. Os citados frutos secos, os citrinos, a vinha, os produtos biológicos são áreas em que poderíamos apostar. Sabemos que são decisões que não se compadecem com vontades isoladas e que alterações tão profundas de paradigmas económicos terão que ser a nível nacional, mas surgem cada vez mais vozes e exemplos de empresários de sucesso que souberam aliar a produção agrícola ao respeito pela natureza e criaram nichos de mercado muito interessantes. Cabe às autarquias dar sinais nesse sentido, ajudando dentro das suas competências, criando pelouros específicos para esta área, dinamizando e apoiando feiras e mostras de produtos, semanas gastronómicas e igualmente investindo na certificação de produtos tradicionais, tal como já propusemos no caso do bolo D. Rodrigo. Não esquecer que tem sido o abandono do campo e da floresta que tem potenciado o flagelo dos incêndios e que igualmente em termos ambientais se vai construindo a consciência que o transporte incessante de produtos por todo o mundo aumenta o consumo de energia e contribui em larga medida para o aquecimento global do planeta.


Questão:
Que outras ideias do seu programa eleitoral destaca como prioritárias para o concelho?
Resposta:
O programa da candidatura da CDU à Câmara Municipal de Lagos, não está ainda feito. Numa candidatura com as características da nossa é a súmula dos contributos dos candidatos e vai beber essencialmente aos anseios das populações que connosco contactam. No entanto há linhas gerais já assentes tais como a definição estratégica de que, no desenvolvimento do nosso concelho, a actividade turística não pode ser encarada como o único vector económico destacando o desígnio marítimo de Lagos e a importância do mar interligado com as mais variadas actividades produtivas e sócio-culturais; um reforço do funcionamento democrático dos órgãos do poder local e um incentivo à participação dos munícipes na vida do seu Concelho; uma política cultural que volte a pôr Lagos nos primeiros lugares dos circuitos culturais do Algarve; uma aposta na reabilitação do Centro Histórico da cidade e também das povoações das freguesias e por fim uma preocupação ambiental que se reflicta em todas as opções a tomar e dê um sinal à população que estas são questões vitais.


Questão:
Também no discurso de candidatura disse que os políticos estão hoje no “«ground zero» da credibilidade”. Na sua opinião, o que levou a esta situação e como poderá ser ultrapassada?
Resposta:
O que levou à situação que hoje vivemos de descrédito e desconfiança em relação à política e aos políticos foram anos a fio de promessas não cumpridas, de políticas de direita, de aproveitamento dos cargos públicos para benefício próprio e a existência de uma clientela que, à vez, se perfila para benesses, mordomias e ocupação de lugares na administração. Prometendo o céu em suaves prestações eleitorais, muitos, assim que eleitos, rasgam os compromissos, esquecem os problemas das populações, de quem trabalha, dos mais desfavorecidos e agravam ainda mais a desilusão. Também a justiça não consegue travar um combate efectivo à corrupção e tornar-se célere e eficaz para acabar com a sensação de impunidade dos poderosos. Tudo isto tem vindo a provocar um afastamento da participação e da intervenção cívica e política a que não são alheios também os 48 anos de fascismo. Como já teorizou um grande filósofo português “o medo de existir” continua, insidiosamente, na nossa sociedade, a corroer, a tolher e a influenciar este alheamento que se constata por todo o lado. O combate a esta situação deve começar imediatamente e passar por todos. Nas escolas, com a aprendizagem da cidadania; na chamada à participação dos cidadãos nos destinos da sua freguesia, concelho ou país seja em referendos, debates ou orçamentos participativos; com a exigência da participação na definição da política europeia e na aprovação dos seus tratados; no papel pedagógico que devem os órgãos de comunicação social; com a penalização dos partidos e políticos que não cumprem e com a actuação de todos e cada um de nós, na família, no trabalho, na rua não nos eximindo a tomar nas mãos o destino pessoal e colectivo, não deixando que outros decidam o que a todos diz respeito. Não gostaria de terminar sem saudar os que, levando à letra a causa da intervenção pública e política como a actividade mais nobre numa sociedade, têm marcado a diferença.