terça-feira, fevereiro 06, 2007

A TRAIÇÃO

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Perante as desconfianças, finalmente o Luís decidiu confessar: _ «Sim, Teresa! É verdade! Acabei por te trair». Tinha combinado o encontro para um fim-de-semana, dito de trabalho, que passou com a outra numa Pousada. Descreveu, minuciosamente, o que mais o atraiu; o seu corpo esguio, as coxas torneadas, a maneira de andar, a boca perfeita, os seios no lugar, o guarda-roupa elegante, a maneira como ria, o seu perfume suave, o carro topo de gama. Descreveu o quarto, as camas que juntaram, o vinho que beberam, os corpos que rolaram, o acto que consumaram. _ «Sabes, Teresa? Já lá vão uns anos de casamento. Tudo sempre igual; vires do trabalho, arrumares a casa, fazeres o jantar, ajudares a Ana com os trabalhos… E à noitinha; o mesmo quarto, a mesma cama, o mesmo ritual, o meu cansaço… Precisava de algo que me desse outro ânimo e, sobretudo, que não me desse muito trabalho». Teresa, às voltas no quarto, mal conseguia falar perante a constatação das suas suspeitas. Hesitante, perguntou a primeira coisa que os seus desordenados pensamentos lhe fizeram chegar aos lábios. _ «Diz-me ao menos se significou alguma coisa para ti?» talvez na esperança de que ele dissesse que não. _ «Ó Teresa! Já te confessei, já expus as minhas razões! Não achas que é melhor pormos aqui um ponto final do assunto?!» disse meio sério, meio a brincar. _ «Não Luís!» _ disse Teresa peremptória. «Não vamos pôr ponto final em assunto nenhum porque, também eu, tenho uma coisa a confessar-te: _ Quando casei contigo, iniciei a nossa vida em comum desempenhando, até agora e o melhor que pude (muitas vezes cansada e farta da rotina), o papel de esposa, de amiga, de amante, de mãe e de doméstica. Sempre pensei que esse seria o caminho para um casamento feliz e para a manutenção do amor, ao qual tu, até certa altura, correspondeste. Depois, começaram os jantares da tertúlia, o chegar tarde, os longos silêncios. Acabaram-se as carícias, o beijo à saída e o outro à chegada. Começaram as piadinhas às colegas, os sorrisinhos e piropos às empregadas das lojas, os chats na Internet. Também eu me fartei dos serões em silêncio a veres futebol, da roupa suja atirada para o chão, do jornal deixado no parapeito da janela e… também eu te traí.» Luís ficou estupefacto, pálido, sem palavras. E Teresa continuou: _ «Sabes daquela minha viagem ao Norte, de visita à minha prima doente? Não passou de uma desculpa para uma noite bem passada. Queres saber o que me atraiu nele? … O facto de ser desimpedido, carinhoso, atencioso, simpático, com humor. De me telefonar todos os dias a saber da Ana quando esteve doente, de se preocupar comigo, de perceber quando estou mal e de me ter pedido para ir viver com ele, de levar a minha (nossa) filha…» Interrompendo-a, Luís, que nem leão em jaula, caminhando de cá para lá entre as duas janelas do quarto, subitamente perguntou: _ «Podes ao menos dizer-me se ele é melhor do que eu na cama?» Mas Teresa fingiu não ouvir e continuou: _«À parte tudo isto, ele tem, acima de tudo, o que eu mais me atrai num homem, uma inteligência fora do comum; trabalha na tua empresa, duas secretárias atrás da tua e tu nunca suspeitaste de nada. Soube que tu me traíste, contou-me, e fez com que, finalmente, eu decidisse deixar-te.
Ah! Já me esquecia! É bem melhor que tu na cama!»

13 comentários:

kuka disse...

Sem comentários.

Acilina disse...

Pois é! Muitos homens pensam que por real direito divino, talvez, têm direito a uma, que eles chamam "esposa" e que no fundo é só uma empregada doméstica gratuita, e depois, fora de casa, a "outra" ou "outras" com quem partilham as alegrias e tudo o que mais gostam, forrobodó sem grandes responsabilidades.
Não sei qual é a solução para isto. Mas pelo menos, que as mulheres tomem consciência destas situações, e não se deixem enredar nelas. Que tenham meios de se desenvencilhar sozinhas e de progredir na vida. Quando os homens perceberem, que se querem ter uma companheira, têm que a respeitar e dar-lhe o devido valor, talvez volte a haver esperança para que os casamentos resultem.

Rafeiro Perfumado disse...

Conquistar todos os dias... claro que para isso era preciso não passar tanto tempo no blog (saíndo apressadamente)!

Ana A. disse...

Infelizmente a realidade de muitos...

sem-comentarios disse...

Uma história comum,mas muito bem escrita :)

Lilith disse...

Ó Junemas onde é que foi buscar esta históri? Sim porque não é inventada pois não??? A mim não me enganas tu!!!

lifeyes disse...

Gosto do texto bem encadeado.
Quanto ao conteúdo, não creio que aquela seja a melhor via (em ambos os casos) mas eu não sou nem deus nem padre e nem juiz para julgar.

Bom fim de semana **

June disse...

Homoclínica - infelizmente estas coisas ainda acontecem nos dias de hoje. Não deviam, mas acontecem.

Raf - Deixa lá o blog e vai já dar umas lambidelas à tua jove.

Sem comentários - Obrigado pelo elogio à escrita.

Lilith - Por acaso não foi a ti que aconteceu, não?!...


Lifeyes - Claro que não é esta a melhor via mas é, muitas vezes, o que certos senhores mereciam.
Ah pois é!
Obrigado pela visita.

Teresa Mateus Cordeiro disse...

Querida june,

Eu sou uma Teresa casada com um Luís...
Deverei ficar aterrorizada?
Ou pedir ao Luís que encontre a giraça e eu o "gaijo" que se senta 2 secretárias atrás dele (se as houvesse!) e ver se ...
até gostamos da experiência?
Ah, admirável mundo velho...
Sempre houve, há e haverá, histórias assim...
E que fazer?
Repudiar, ou esperimentar?
Fica a questão...
Um grande beijo para si

June disse...

Beijinho Teresa. Obrigado pelo comentário.

Makejeite disse...

A sério que não percebi o fundamento deste post. Tou baralhado, no fim um é melhor que outro na cama , mas então eles não estavam lá os dois. Ganda confusão!!!!

Aluada disse...

A essência de uma relação está na conquista de todos os dias por algo novo. Um novo alento ...

Fizeste-me pensar na vida, na minha relação!

Beijicos

Anónimo disse...

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