segunda-feira, abril 24, 2006

Segredos


Tal como as conversas, os segredos são como as cerejas.

Divirto-me imenso quando me pedem segredo sobre qualquer coisa. Não é pelo facto de me pedirem, é porque, certamente, já houve alguém que pediu segredo a quem agora está a contá-lo. E normalmente começa: «Juras que não dizes a ninguém? É que só me contaram a mim, e se tu contares, sabem logo de onde veio...». A o que eu repondo: «Sabes que sou um túmulo! Alguma vez te deixei ficar mal?». Continuando, a minha confidente acaba por me dizer: «Vê lá que contei a fulana e ela nem acreditou! Ficou pasmada. Já o meu marido, quando lhe contei, disse-me que há muito que esperava uma coisa dessas.» _ e eu a rir-me para dentro. O certo é que todos gostamos de saber um segredo e, quanto mais dramático, mais picante e mais escandaloso, mais gostamos de o contar e espalhar aos sete ventos. É a certeza de sabermos que alguém está realmente a ouvir-nos _ quando se conta um segredo somos sempre alvo da maior atenção, a não ser que sejamos um mentiroso compulsivo _nem contando um segredo nos ligam peva. Outra coisa que fazemos é pedir: « Se quiseres contar, conta. Mas não digas que fui eu que disse.» Mas depois, adoramos que digam que fomos nós que sabíamos o segredo e que o contámos em primeira mão. Dá-nos realce, protagonismo. O que nos deixa profundamente de rastos é o esforço para dar emoção à coisa, a escolha das palavras certas, o segredo em si, e depois dizerem-nos: «Já sabia!». Que desperdício! Então depois de tudo isto, já sabia? Não há direito! O pior de tudo é quando a pessoa a quem contamos se revolta com o assunto e nos chama a atenção por estar a contar um segredo, quiçá, de um amigo. Aí, a conversa muda completamente, desaparece o ar de fofoca, e com ar pesaroso declara-se: «Juro-te que não ía contar a ninguém, mas tenho andado tão agoniada, há dois dias que não durmo, e felizmente aconteceu encontrar-te, a única amiga com quem eu desabafaria uma coisa destas... ainda bem que te contei, já me sinto mais leve». Por vezes, damo-nos mal com o protagonismo e somos confrontados pelo alvo do segredo: «Como tiveste a coragem de revelar o que te contei? Nunca mais te conto nada! Pedi-te segredo absoluto e foste logo pôr a boca no trombone!». E com facilidade: «Eeeeeuuu! Toda a gente veio falar-me no assunto! Desde a M, à S ou à X, toda a gente já sabia. Vê lá tu que até já o sabia o meu marido? Pelo amor de Deus, eu nunca te faria uma coisa dessas!».
Quem nunca revelou um segredo que atire a primeira pedra. Quem diz que não o fez, é um grande mentiroso!

4 comentários:

Anónimo disse...

Grandes verdades! EhEhEh... É mesmo assim!

Teresa Mateus Cordeiro disse...

Não concordo:não há necessidade de protagonismo, mas sim de partilhar emoções: há tanta falta de legítimas emoções, neste mundo dessensibilizado...

Anónimo disse...

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