segunda-feira, dezembro 03, 2007
Estrela da tarde
Foto: Alex Mastuciac
O mais lindo poema de Ary dos Santos
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas , tardavas eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhamos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria, ou se és tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrela mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daquelas que à noite amando se deram
E entre os braços da noite, de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto
sábado, dezembro 01, 2007
Academia de Submissos
Academia de Submissos
Veja aqui um trabalho do meu amigo Hugo Almeida (Halden Beaumont)
quinta-feira, novembro 29, 2007
A minha pátria é a língua portuguesa
sábado, novembro 24, 2007
Palavras surdas
quinta-feira, novembro 22, 2007
sábado, novembro 17, 2007
Amigos de um ano - Second Life
Um amigo, por definição de alguém, é o prémio de uma conquista obtida pela amizade, lealdade, carinho, honestidade, fidelidade, entre muitas outras coisas.
Amigos são aqueles que sabemos poder contar em todas as situações da nossa vida, em especial nas menos boas, para as quais, egoisticamente, solicitamos quase sempre a sua ajuda.
Nos tempos que (desenfreados) correm, a agitação do dia a dia não nos permite, por falta de tempo, relacionarmo-nos de forma assídua com os amigos, embora saibamos que eles estão lá, tal como nós, disponíveis para nos ajudar sempre que é preciso; os amigos de infância, os que fomos “conquistando” ao longo dos anos, os mais recentes.
Falando de amigos recentes, vai fazer no dia 5 de Dezembro um ano que, num dos blogs que frequentemente visito, li sobre o Second Life. Nesse mesmo dia, fiz o download e entrei nesse mundo surpreendente, onde sou a June Jurack. Conheci logo a Cat, a Ana, a Winter e a Summer, que me receberam muito bem (a pauladas com o bam) e me ensinaram muita coisa.
Viajei, explorei, assisti a aulas, concertos ao vivo, exposições, conheci todo o tipo de pessoas (avatares) e fiz novas relações de amizade. Não tendo casa no SL, fiz de Portucalis a minha base, ilha que é propriedade de portugueses, onde me sinto como que em casa, onde o serão é sempre diferente: desde a conversa séria que rola pela noite dentro, às partidas que pregamos uns aos outros, às aulas que frequentamos, às festas programadas que fazemos, às não programadas quando comemoramos algum acontecimento inesperado.
O mais interessante é que tenho aprendido bastante com esses amigos, que tornam os meus serões bem mais agradáveis e com eles, surpreendentemente, acabei por descobri que há valores no SL que se vão perdendo na vida real: a entreajuda, o apoio, a disponibilidade, a partilha.
Quero com tudo isto dizer que não mais passei um serão que não seja entre amigos. Estes meus amigos recentes.
Amigos são aqueles que sabemos poder contar em todas as situações da nossa vida, em especial nas menos boas, para as quais, egoisticamente, solicitamos quase sempre a sua ajuda.
Nos tempos que (desenfreados) correm, a agitação do dia a dia não nos permite, por falta de tempo, relacionarmo-nos de forma assídua com os amigos, embora saibamos que eles estão lá, tal como nós, disponíveis para nos ajudar sempre que é preciso; os amigos de infância, os que fomos “conquistando” ao longo dos anos, os mais recentes.
Falando de amigos recentes, vai fazer no dia 5 de Dezembro um ano que, num dos blogs que frequentemente visito, li sobre o Second Life. Nesse mesmo dia, fiz o download e entrei nesse mundo surpreendente, onde sou a June Jurack. Conheci logo a Cat, a Ana, a Winter e a Summer, que me receberam muito bem (a pauladas com o bam) e me ensinaram muita coisa.
Viajei, explorei, assisti a aulas, concertos ao vivo, exposições, conheci todo o tipo de pessoas (avatares) e fiz novas relações de amizade. Não tendo casa no SL, fiz de Portucalis a minha base, ilha que é propriedade de portugueses, onde me sinto como que em casa, onde o serão é sempre diferente: desde a conversa séria que rola pela noite dentro, às partidas que pregamos uns aos outros, às aulas que frequentamos, às festas programadas que fazemos, às não programadas quando comemoramos algum acontecimento inesperado.
O mais interessante é que tenho aprendido bastante com esses amigos, que tornam os meus serões bem mais agradáveis e com eles, surpreendentemente, acabei por descobri que há valores no SL que se vão perdendo na vida real: a entreajuda, o apoio, a disponibilidade, a partilha.
Quero com tudo isto dizer que não mais passei um serão que não seja entre amigos. Estes meus amigos recentes.
terça-feira, novembro 13, 2007
Mutilação genital feminina
As rosas
Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentesTodo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Foto: Anakin Sk
sábado, novembro 10, 2007
Os portugueses abusam
Os portugueses abusam nas gorduras
Os deputados portugueses abusam da imunidade parlamentar
Os portugueses abusam no sal
Os tribunais portugueses abusam na prisão preventiva
Os portugueses abusam no álcool
Os comerciantes portugueses abusam nos preços
Os portugueses abusam nos medicamentos
Os ladrões portugueses abusam da sorte
Os portugueses abusam dos créditos
Os treinadores portugueses abusam nas declarações aos média
Os portugueses abusam dos serviços de saúde
Os filmes portugueses abusam nos palavrões
Os portugueses abusam das urgências hospitalares
Os políticos portugueses abusam do poder
Os portugueses abusam no subsídio de desemprego
Os bancos portugueses abusam nos lucros
Os portugueses abusam no livro de reclamações
As empresas dos portugueses abusam nos recibos verdes
Os portugueses abusam no consumo de tabaco
As instituições dos portugueses abusam na burocracia
Os portugueses abusam no uso do telemóvel
Os portugueses abusam dos portugueses
E por causa desta mania bem portuguesa de abusar de tudo e de todos, fizeram-me saltar da cama bem cedo, ir a correr para o emprego, stressar mais do que num dia normal de trabalho e lixar de uma vez o meu dia de folga.
Qualquer dia abuso da minha liberdade e mando-os a todos…
Foto: Mad Woman. Não foi possível identificar o autor
Os deputados portugueses abusam da imunidade parlamentar
Os portugueses abusam no sal
Os tribunais portugueses abusam na prisão preventiva
Os portugueses abusam no álcool
Os comerciantes portugueses abusam nos preços
Os portugueses abusam nos medicamentos
Os ladrões portugueses abusam da sorte
Os portugueses abusam dos créditos
Os treinadores portugueses abusam nas declarações aos média
Os portugueses abusam dos serviços de saúde
Os filmes portugueses abusam nos palavrões
Os portugueses abusam das urgências hospitalares
Os políticos portugueses abusam do poder
Os portugueses abusam no subsídio de desemprego
Os bancos portugueses abusam nos lucros
Os portugueses abusam no livro de reclamações
As empresas dos portugueses abusam nos recibos verdes
Os portugueses abusam no consumo de tabaco
As instituições dos portugueses abusam na burocracia
Os portugueses abusam no uso do telemóvel
Os portugueses abusam dos portugueses
E por causa desta mania bem portuguesa de abusar de tudo e de todos, fizeram-me saltar da cama bem cedo, ir a correr para o emprego, stressar mais do que num dia normal de trabalho e lixar de uma vez o meu dia de folga.
Qualquer dia abuso da minha liberdade e mando-os a todos…
Foto: Mad Woman. Não foi possível identificar o autor
quinta-feira, novembro 08, 2007
terça-feira, novembro 06, 2007
sábado, novembro 03, 2007
OLHOS NOS OLHOS - CHICO BUARQUE
Chico e a sua viola
Chico lindo
Chico novinho
Chico único
Olhos nos olhos
Perdi o conto das vezes que toquei e cantei este tema
Depois há ainda outras, com a Bethania, o Ney... A "Construção" é fantástica
quinta-feira, novembro 01, 2007
Halloween
Ontem à noite vesti-me de bruxa mas, do que eu gostava mesmo era de ser bruxa. Das boas, claro! Queria ser assim uma bruxita engraçada, com escola, boa adivinhadora. Poder fazer o sol brilhar por entre a chuva nos dias maus, o mar acalmar nos dias de tempestade; fazer os mentirosos falar verdade e os políticos não pensarem só neles; dar uma mesa farta a quem tem fome, dinheiro a quem o não tem; calar certas bocas para sempre e fazer falar os que há muito andam calados. Enfim!... De muitas mais coisas me lembrarei quando for bruxa. Prometo.
sábado, outubro 27, 2007
sexta-feira, outubro 26, 2007
Se isto é cultura...
Recebi por mail a seguinte noticia, que achei assim qualquer coisa a rondar o repugnante, o absurdo, o cruel...Por favor assinem a petição:
"Um artista (não sei como o consideram como tal) da Costa Rica, Guillermo Habacuc Vargas, expôs um cão vadio faminto numa galeria de arte (mais uma vez ultrapassa-me como tal 'instituição' considera o sofrimento e a tortura para gáudio público uma forma de arte). O cão estava preso por uma corda curta. Ninguém alimentou ou deu água ao animal, que inevitavelmente acabou por morrer durante a exposição. Este ser humano foi, imagine-se, o 'artista' escolhido para representar o seu país na 'Bienal Centro americana Honduras 2008'.
"Um artista (não sei como o consideram como tal) da Costa Rica, Guillermo Habacuc Vargas, expôs um cão vadio faminto numa galeria de arte (mais uma vez ultrapassa-me como tal 'instituição' considera o sofrimento e a tortura para gáudio público uma forma de arte). O cão estava preso por uma corda curta. Ninguém alimentou ou deu água ao animal, que inevitavelmente acabou por morrer durante a exposição. Este ser humano foi, imagine-se, o 'artista' escolhido para representar o seu país na 'Bienal Centro americana Honduras 2008'.
Na minha opinião, isto não é arte, é um choque mesmo para quem não vê a exposição. Não me chocou mais do que esta, a exposição de Gunther von Hagens, Bodies the Exhibition. Aqui tratou-se de um animal que estava vivo, que foi maltratado e deixado a morrer. O nome que se dá a isto é “crime”. Se ninguém fez nada e se não o param, não me admira que qualquer dia ponha um mendigo atado por um cordel a morrer à fome.
Surpreende-me que tenha tido audiência. Há gente para tudo, até há aqueles que ficam chocados e enojados mas que o escondem muito bem, a esses chamam-se os fundamentalistas da cultura. Não porque gostem de tudo o que é cultura, mas porque pensam que serão desvalorizados se não forem vistos, quanto mais não seja, pelo vizinho do lado, em tudo o que é recital, exposição, ballet, etc., mesmo que o espectáculo seja a maior das estopadas. Neste caso do cão agonizante, não passaram de coniventes no crime, porque viram e não actuaram contra tal atrocidade.
Que me perdoem a frase (não costumo usar deste tipo) mas, se isto é cultura... Merda para a cultura.
Surpreende-me que tenha tido audiência. Há gente para tudo, até há aqueles que ficam chocados e enojados mas que o escondem muito bem, a esses chamam-se os fundamentalistas da cultura. Não porque gostem de tudo o que é cultura, mas porque pensam que serão desvalorizados se não forem vistos, quanto mais não seja, pelo vizinho do lado, em tudo o que é recital, exposição, ballet, etc., mesmo que o espectáculo seja a maior das estopadas. Neste caso do cão agonizante, não passaram de coniventes no crime, porque viram e não actuaram contra tal atrocidade.
Que me perdoem a frase (não costumo usar deste tipo) mas, se isto é cultura... Merda para a cultura.
quarta-feira, outubro 24, 2007
domingo, outubro 21, 2007
Como descascar uma romã
Foto: não foi possível identificar o autor
Estamos na época da romã, esse fruto dos deuses, que na antiguidade se associava a rituais de fertilidade, riqueza e fartura, como se pode ler num artigo da Visão Sete desta semana.
Esse mesmo artigo termina com a seguinte frase:
- Não é fácil de descascar, mas vale bem a pena o esforço…
Ora bem, este tipo de frase abunda na Net, em tudo o que se refere a este fruto, daí eu resolver que é a hora de compartilhar convosco como se descasca uma romã em pouco mais de um minuto.
1 - Lava-se a romã e corta-se a coroa;
2 - Corta-se ao meio como se fosse uma laranja para espremer;
3 - Coloca-se cada metade na mão esquerda (se não for esquerdino/a) com os bagos virados para baixo, sobre uma taça para onde vão cair os ditos;
4 - Com uma colher de pau, bate-se energicamente por toda a casca, sem medo porque não ofende os bagos, e ao fim de alguns segundos estes começam a cair por entre os dedos.
Depois digam-me qualquer coisinha.
Estamos na época da romã, esse fruto dos deuses, que na antiguidade se associava a rituais de fertilidade, riqueza e fartura, como se pode ler num artigo da Visão Sete desta semana.
Esse mesmo artigo termina com a seguinte frase:
- Não é fácil de descascar, mas vale bem a pena o esforço…
Ora bem, este tipo de frase abunda na Net, em tudo o que se refere a este fruto, daí eu resolver que é a hora de compartilhar convosco como se descasca uma romã em pouco mais de um minuto.
1 - Lava-se a romã e corta-se a coroa;
2 - Corta-se ao meio como se fosse uma laranja para espremer;
3 - Coloca-se cada metade na mão esquerda (se não for esquerdino/a) com os bagos virados para baixo, sobre uma taça para onde vão cair os ditos;
4 - Com uma colher de pau, bate-se energicamente por toda a casca, sem medo porque não ofende os bagos, e ao fim de alguns segundos estes começam a cair por entre os dedos.
Depois digam-me qualquer coisinha.
sábado, outubro 20, 2007
Rio das Flores
Rio das Flores será a próxima obra que vou ler. As histórias e o estilo de escrita do Miguel Sousa Tavares, em particular a de Equador, fazem-me lembrar uma feliz união entre o género Eça de Queiroz e o dos escritores sul-americanos como Gabriel Garcia Marquez e Isabel Allende.
Segundo consta, MST levou 3 anos em pesquisas históricas e visitas a locais em que o romance se desenrola e neste último ano não viajou para terminar este livro com 600 páginas.
A história é um enredo de paixões, amores, tradições e amor à terra e engloba três gerações da mesma família, na mesma casa. Desenrola-se no século XX e abrange 30 anos de história, tendo como cenário o Alentejo, Espanha e Brasil.
Está mesmo quase a chegar.
terça-feira, outubro 16, 2007
Homem. Às vezes...
- Vim aqui só para lhe dizer que nunca mais cá venho.
- Porquê? Algum problema para não vir?
- Não. Não virei porque não me apetece.
"Às vezes é bom acreditar na evolução e pensar que o homem ainda não está concluído."
John M. Henry
sábado, outubro 13, 2007
O dia em que soube que afinal era má
O Sabe-Tudo,
O Francisco sabia de tudo, desde o segredo para se fazer uma mousse de chocolate que não deslaçasse, ao nome do último dispositivo uterino que tinha sido lançado no mercado.
Irritava-me solenemente quando, em qualquer conversa de amigos, acabávamos sempre por ouvir um “eu sei” ou “já sabia” e, a seguir, a respectiva justificação de como soube, como se faz, porque acontece, etc., etc., etc..
Se falávamos numa viagem, já lá tinha estado; num restaurante, já lá tinha comido; numa figura pública, até já o/a tinha conhecido, jantado com ele, ficado a seu lado no cinema.
Tudo isto seria interessante de ouvir se, na maior parte das vezes, não soubéssemos que estava a mentir. É claro que, como bons amigos, condescendíamos, até porque ele não era muito feliz no casamento, deixávamos que nos enfiasse o barrete e lá nos íamos divertindo como se nada fosse. Ao fim e ao cabo, o gozado era ele: _ «Reparaste na galga que o Francisco meteu?» perguntávamo-nos frequentemente. «Deixa estar,» _ dizia outro, _«ele é feliz assim!».
Mas aos poucos, e com o avançar dos anos, todos nos começávamos a fartar do Francisco SabeTudo, das suas histórias rocambolescas e das suas mentiras.
Até que um dia, rebentando de orgulho com um coisa muito boa que me tinha acontecido e querendo partilhar o assunto com os amigos, contando-lhes o acontecimento com alguns rodeios para empolgar a história, o Sabe-Tudo, teve a infeliz ideia de se meter, de tentar adivinhar o final da mesma, de me interromper vezes sem conta, de me deixar à beira de um ataque de nervos.
No final, enquanto todos me davam os parabéns, aproxima-se o Francisco com o seu sorrisinho trocista, e segreda-me ao ouvido: «O que tu não sabes, é que eu já sabia!».
Foi aí que se me fugiu a luzinha dos olhos, que o sangue ferveu cá dentro e, coisa rara em mim, contive a vontade de o mandar para o … . Serenei, olhei-o nos olhos, e disse-lhe:
- Ó Francisco, tu, que sabes tudo, já sabias que a tua mulher te põe os cornos?
- A minha mulher? _ Perguntou indignado ao verificar que todos assentiam com a cabeça. _Vocês não sabem o que dizem.
A partir daí, nunca mais me falou, nem aos restantes amigos. Ainda está casado com a mesma mulher e dizem que continua o mesmo galgueiro e Sabe-Tudo de sempre.
Eu sei que fui mazinha.
O Francisco sabia de tudo, desde o segredo para se fazer uma mousse de chocolate que não deslaçasse, ao nome do último dispositivo uterino que tinha sido lançado no mercado.
Irritava-me solenemente quando, em qualquer conversa de amigos, acabávamos sempre por ouvir um “eu sei” ou “já sabia” e, a seguir, a respectiva justificação de como soube, como se faz, porque acontece, etc., etc., etc..
Se falávamos numa viagem, já lá tinha estado; num restaurante, já lá tinha comido; numa figura pública, até já o/a tinha conhecido, jantado com ele, ficado a seu lado no cinema.
Tudo isto seria interessante de ouvir se, na maior parte das vezes, não soubéssemos que estava a mentir. É claro que, como bons amigos, condescendíamos, até porque ele não era muito feliz no casamento, deixávamos que nos enfiasse o barrete e lá nos íamos divertindo como se nada fosse. Ao fim e ao cabo, o gozado era ele: _ «Reparaste na galga que o Francisco meteu?» perguntávamo-nos frequentemente. «Deixa estar,» _ dizia outro, _«ele é feliz assim!».
Mas aos poucos, e com o avançar dos anos, todos nos começávamos a fartar do Francisco SabeTudo, das suas histórias rocambolescas e das suas mentiras.
Até que um dia, rebentando de orgulho com um coisa muito boa que me tinha acontecido e querendo partilhar o assunto com os amigos, contando-lhes o acontecimento com alguns rodeios para empolgar a história, o Sabe-Tudo, teve a infeliz ideia de se meter, de tentar adivinhar o final da mesma, de me interromper vezes sem conta, de me deixar à beira de um ataque de nervos.
No final, enquanto todos me davam os parabéns, aproxima-se o Francisco com o seu sorrisinho trocista, e segreda-me ao ouvido: «O que tu não sabes, é que eu já sabia!».
Foi aí que se me fugiu a luzinha dos olhos, que o sangue ferveu cá dentro e, coisa rara em mim, contive a vontade de o mandar para o … . Serenei, olhei-o nos olhos, e disse-lhe:
- Ó Francisco, tu, que sabes tudo, já sabias que a tua mulher te põe os cornos?
- A minha mulher? _ Perguntou indignado ao verificar que todos assentiam com a cabeça. _Vocês não sabem o que dizem.
A partir daí, nunca mais me falou, nem aos restantes amigos. Ainda está casado com a mesma mulher e dizem que continua o mesmo galgueiro e Sabe-Tudo de sempre.
Eu sei que fui mazinha.
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