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Tudo começou há muitos anos, era eu menina.
Em cada passagem de ano, ouvia com frequência, as advertências do meu pai, que até nem era uma pessoa supersticiosa, que a alegria, o bem-estar e tudo o que se fizesse nessa noite seria o espelho do ano vindouro.
- O reveillon teria que ser num sítio animado, bem comido e bem regado.
- Queria toda a gente linda e elegante mas que ninguém da família se vestisse de preto.
- Onde quer que estivéssemos, à meia-noite, subíamos para qualquer sítio alto, normalmente uma cadeira, com dinheiro grado na mão.
- As 12 passas de uva tinham que ser comidas antes que finalizassem as badaladas da meia-noite.
- Tínhamos que usar uma qualquer peça de roupa nova para a noite de 31 e uma outra para estrear no dia 1 de Janeiro.
Todos, na família, cumpriamos estas regras escrupulosamente e achávamos muita piada.
Os anos foram passando e uma parte desses hábitos do tempo do meu pai foi-se desvanecendo. Os últimos três anos, por exemplo, têm sido passados em casa. Corre tudo muito bem mas falta aquela euforia contagiante própria dos sítios com muita gente em que todos se animam mutuamente. É claro que não me visto como se fosse para um reveillon, nem tenho o cuidado de comprar roupas novas para usar.
Aproxima-se o final do ano.
Estranhamente, e também não sendo supersticiosa, tenho verificado que a forma como tenho passado o final de cada um destes últimos anos tem vindo, de certa maneira, a reflectir a minha vida em cada ano que começa.
Lembro-me muito do meu pai, dos meus pais, e sinto muito a falta deles, destas pequenas coisas de família que nos faziam felizes e que, lamentavelmente, já não podem voltar.
Feliz Ano Novo para todos vocês.
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