O Francisco sabia de tudo, desde o segredo para se fazer uma mousse de chocolate que não deslaçasse, ao nome do último dispositivo uterino que tinha sido lançado no mercado.
Irritava-me solenemente quando, em qualquer conversa de amigos, acabávamos sempre por ouvir um “eu sei” ou “já sabia” e, a seguir, a respectiva justificação de como soube, como se faz, porque acontece, etc., etc., etc..
Se falávamos numa viagem, já lá tinha estado; num restaurante, já lá tinha comido; numa figura pública, até já o/a tinha conhecido, jantado com ele, ficado a seu lado no cinema.
Tudo isto seria interessante de ouvir se, na maior parte das vezes, não soubéssemos que estava a mentir. É claro que, como bons amigos, condescendíamos, até porque ele não era muito feliz no casamento, deixávamos que nos enfiasse o barrete e lá nos íamos divertindo como se nada fosse. Ao fim e ao cabo, o gozado era ele: _ «Reparaste na galga que o Francisco meteu?» perguntávamo-nos frequentemente. «Deixa estar,» _ dizia outro, _«ele é feliz assim!».
Mas aos poucos, e com o avançar dos anos, todos nos começávamos a fartar do Francisco SabeTudo, das suas histórias rocambolescas e das suas mentiras.
Até que um dia, rebentando de orgulho com um coisa muito boa que me tinha acontecido e querendo partilhar o assunto com os amigos, contando-lhes o acontecimento com alguns rodeios para empolgar a história, o Sabe-Tudo, teve a infeliz ideia de se meter, de tentar adivinhar o final da mesma, de me interromper vezes sem conta, de me deixar à beira de um ataque de nervos.
No final, enquanto todos me davam os parabéns, aproxima-se o Francisco com o seu sorrisinho trocista, e segreda-me ao ouvido: «O que tu não sabes, é que eu já sabia!».
Foi aí que se me fugiu a luzinha dos olhos, que o sangue ferveu cá dentro e, coisa rara em mim, contive a vontade de o mandar para o … . Serenei, olhei-o nos olhos, e disse-lhe:
- Ó Francisco, tu, que sabes tudo, já sabias que a tua mulher te põe os cornos?
- A minha mulher? _ Perguntou indignado ao verificar que todos assentiam com a cabeça. _Vocês não sabem o que dizem.
A partir daí, nunca mais me falou, nem aos restantes amigos. Ainda está casado com a mesma mulher e dizem que continua o mesmo galgueiro e Sabe-Tudo de sempre.
Eu sei que fui mazinha.